quinta-feira, 4 de junho de 2009

FEITO NA GARAGEM E COM PREÇO DE FERRARI.

Feito na garagem,
com preço de Ferrari

Vinhos caros produzidos em
pequenas vinícolas são a moda
na Europa e nos Estados Unidos

Edição 1 703 - 6 de junho de 2001 - VEJA-0N-LINE.

Tradicionalmente, os grandes vinhos são produzidos em propriedades privilegiadas pelo solo e pelo clima, seguindo regras perpetuadas por gerações. Dito isso, é fácil supor que para ser badalada uma marca precisa ter pedigree secular. Certo? Errado. Um dos maiores fenômenos do mercado internacional de vinhos é feito num prosaico sitiozinho da Califórnia, e sua primeira safra foi lançada há menos de dez anos. Trata-se do Screaming Eagle, um vinho forte e ligeiramente mais alcoólico que os demais tintos encorpados. Tem sabor tão marcante que não se recomenda tomá-lo como acompanhamento de uma refeição. Uma garrafa de Screaming Eagle custa pouco mais de 100 dólares – mas esse valor é só uma referência. A bebida precisa ser encomendada diretamente ao produtor, mas em geral só está disponível em leilões por preços entre 2.000 e 2.500 dólares. As 6.000 garrafas produzidas por ano são disputadas quase que literalmente a tapa por milionários e amantes do vinho em geral. Em um leilão realizado na Califórnia no ano passado, uma garrafa de 6 litros da safra de 1992 alcançou a cifra astronômica de 500.000 dólares, marco considerável em se tratando de vinhos.


Courtesy of Butterfields Auctioneers
Screaming Eagle
Com produção de apenas 6 000 garrafas por safra, este tinto da Califórnia é arrematado em leilões por mais de 2000 dólares




O Screaming Eagle é o mais vistoso e caro exemplar do que na França é chamado de vins de garage, ou vinhos de garagem. O nome vem da forma como são produzidos. As uvas são cultivadas em pequenas plantações cuja área média equivale à de dois campos de futebol. As prensas do fruto e os barris para envelhecimento do vinho ficam em galpões com o tamanho de uma garagem. A produção gira em torno de 5.000 garrafas por safra. A fórmula foi desenvolvida para fazer frente à produção em larga escala dos grandes châteaux e começou a se popularizar na Europa na década de 80. O ponto de partida foi o Le Pin, um Bordeaux da região do Pomerol, que inspirou equivalentes na Itália e na Espanha. No ínicio dos anos 90, os vinhos de garagem chegaram aos Estados Unidos, onde já existem oito pequenas vinícolas especializadas nesse tipo de bebida. Os americanos os chamam de cult wine.

Outra peculiaridade é a presença ostensiva de enólogos ligados a marcas conhecidas e prestigiadas dando consultoria a essas novas vinícolas. Esses profissionais sabem como valorizar características naturais da região, da uva e do vinhedo e influenciar a qualidade e o sabor dos vinhos. As uvas, geralmente das castas Cabernet Sauvignon e Merlot, permanecem mais tempo nas videiras, sendo colhidas quando já estão muito maduras. Isso confere ao vinho maior volume de álcool. A bebida passa mais tempo em barris de carvalho, muitas vezes novos em folha, o que acentua o sabor da madeira. "A presença de enólogos famosos acelerou o modismo em torno desses vinhos. A produção reduzida fez com que os preços disparassem", diz o especialista paulista Jorge Lucki. Dois vins de garage da região de Saint-Émilion, La Mondotte e Valandraud, tiveram toda a safra de 1999 vendida antes mesmo que fosse engarrafada. A moda já chegou à Austrália. Um lote de três garrafas do desconhecido australiano Duck Muck, produzido pela vínicola Wild Duck Creek, foi leiloado recentemente na Christie's de Los Angeles por 1.725 dólares.

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