Gente achei essa materia da Alexandra Corvo de 2007....Sensacional...Suas colocaçoes sao muito pertinentes aos dias de hoje..Parabens Alexandra Ameiiiiiiii a Materia!!!
Isso mostra como a falta de humildade, insensatez e orgulho que o brasileiro tem de falar ...NAO TENHO CONHECIMENTO DO ASSUNTO....MAS QUERO aprender....Esse assunto mostra aos principiantes dos vinhos que mesmo aqueles que tem um conhecimento intenso do assunto tambem tem duvidas e nao sao tao intocaveis como as vezes parecem.
Alexandra voce sabe dar a cara pra bater sem medo de ser feliz....Mais uma vez Parabens!!!!!
Vinho & Preconceito
Por Alexandra Corvo04.09.2007
É claro que o vinho está rodeado de preconceito. Isto se dá pelo simples fato de que o vinho é um produto humano, e o ser humano tem preconceito. Todos nós temos. Há algum tempo, estive no stand de uma empresa ligada ao mercado financeiro, numa feira do mesmo tema. Fiquei ali para oferecer vinho aos clientes que chegavam, para conversar com eles, tirar dúvidas e ensinar um pouco de degustação para aqueles que estivessem interessados.
Foram dois dias de evento. No primeiro apresentei dois vinhos: um bordeaux da região de Entre Deux Mers e um syrah puro, da região de Costières de Nîmes, no sul da França. Durante a jornada, pessoas foram chegando, na sua maioria homens, de idades variadas. Então começava:
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"Você tem vinho tinto? Porque eu só gosto de vinho tinto."
"Por que o senhor só gosta de vinho tinto?"
"Porque vinho branco não é vinho." (!?)
"Bordeaux é feito de cabernet sauvignon?"
"Bom, geralmente é um corte de cabernet sauvignon, merlot, cabernet franc e petit verdot. Neste caso, deste pequeno Château, ele é um puro merlot."
"Credo! Porque eu só gosto de cabernet."
"Ah, então o senhor não gosta de Bordeaux?"
"Gosto." (?)
"Então, por que não prova?"
"Grumpf. Tá bom. Humm, bom hein?"
"É, é muito bom." (ah..)
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"O senhor aceita um vinho?"
"Não, obrigado."
"Não mesmo? Estes aqui são deliciosos."
(Olha para meu crachá com meu nome e arregala os olhos.)
"Desculpe. Você é a Alexandra Corvo. Achei que você era só uma moça bonita para oferecer vinho. Conheço seu trabalho, admiro muito, aceito um vinho sim."
"E se eu não fosse a Alexandra Corvo, o senhor não aceitaria?"
"Não sei..." (?)
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No segundo dia, tínhamos dois vinhos italianos. Um Chianti Classico de um superprodutor e um IGT da região da Puglia. E segue:
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"Que vinhos são estes?"
"Olha, senhor, tenho aqui um Chianti..."
"Ah não! Eu conheço o chianti, é muito ruim."
"O senhor já tomou todos os Chianti, de todos os produtores, todas as safras?"
"Não, mas Chianti é tudo igual. Deixa eu provar o outro."
Insisti e sem que ele visse, servi o Chianti.
"Nossa! Excelente, que boa escolha eu fiz, tá vendo moça, sabia que gostaria mais deste."
"Mas este é o Chianti, senhor." (!)
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Poderia continuar, talvez daria um livro. Mas tentarei — pelo menos uma vez na vida — ser breve. O vinho é rodeado de preconceitos, dos nossos preconceitos. No entanto, posso contar para vocês que já perdi muito tempo da minha vida deixando de provar coisas interessantes por causa desta porcaria de sentimento. Fiquei anos sem provar vinhos californianos, e só agora, depois de uns sete anos trabalhando com vinho ,conheci o frescor de uma uva zinfandel bem vinificada, sem madeira, pura fruta. Isto para citar apenas um exemplo.
Quero perguntar aqui, leitores, quantos vinhos você deixaram/deixarão de provar e gostar por causa dos preconceitos. Porque, nos exemplos acima, eu ainda consegui driblar o consumidor e fazê-los provar, mas não é sempre o caso. Será que o consumidor que achou que eu era "bonitinha" ficaria sem tomar vinho porque não acreditava em mim? Será que isso já aconteceu com vocês? Será que se não for um especialista megaconhecido, com um milhão de credenciais, você não aceitará a opinião? Será que porque você "encasquetou" na cabeça que só gosta de uma uva, você vai deixar de tomar os trilhões de outros vinhos de outras uvas e regiões?
Será que você vai ficar tomando cabernet sauvignon ultramaduro, com 18 meses de carvalho americano novo durante o verão porque a cor do vinho é tão importante assim?
Espero que não, leitores. Espero que da próxima vez que vocês deparem com uma coisa que vocês não gostam, vocês insistam e experimentem. O mundo do vinho não é nada sem o consumidor. O gosto de cada um, ou mais do que isso, a evolução do gosto de cada um de nós é essencial para formatar o mercado e exigir mais do produtor. Se não fizermos isto, seremos prisioneiros dos nossos preconceitos e escravos da opinião dos outros – críticos inclusive.
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