sábado, 6 de junho de 2009

O TERROIR ( PARTE 2)

O Terroir e o Homem
Há quem defenda que o Terroir dá o carácter do vinho e que a acção do homem a sua qualidade.
O factor humano é indiscutivelmente muito importante na manifestação do Terroir. Sem homem não há Terroir. É sua função e atributo ajudar a natureza a exprimir a suas melhores qualidades no vinho que produz. Associado ao conceito de Terroir está sempre associada a ideia de alta ou mesmo única qualidade. Mas um mau viticultor, preguiçoso ou insensível pode não conseguir fazer um bom vinho mesmo de um Terroir superior. O Terroir e o conceito de qualidade que lhe é inerente só são possíveis através de acção humana bem gerida e orientada.
Um bom Terroir pode também ser neutralizado por uma enologia despótica e demasiado manipuladora e o vinho resultante ser igual a muitos outros vindos de vinhas e solos regulares ou banais. O Terroir é a comunhão de duas realidades altruístas: o melhor da natureza com o melhor do humano. A busca da expressão perfeita da civilização num copo de vinho.

Sem Preço não há Terroir
Ao conceito Terroir está também associado o de “preço alto”. Dai que todos queiram fazer vinhos de Terroir – pelo menos na imaginação.
A famosa classificação dos Crus (Terroirs) bordaleses de 1855 foi sistematizada a partir dos preços de venda estabelecidos durante um século pelo poderoso Império Britânico, seu comprador. Claro que os preços correspondiam à notoriedade alcançada em muitas décadas a partir de uma qualidade ligada a um conceito geológico. No mesmo ano e com base no historial de cada vinha, fama e preço do vinho produzido, Lavalle estabelecia a primeira Classificação dos Crus ou Climats borgonheses (que remontam ao tempo de Carlos Magno - Corton Charlemagne) com base no conceito Terroir. Assim desde o princípio os Grand Cru borgonheses ou os Premier Cru bordaleses estiveram ligados ao alto prestígio, à exclusividade e a preços altos (ainda que não tão altos como na época em que vivemos).
Portanto Terroir não é apenas clima, solo, planta e homem, mas sim também, história e mercado.

A Borgonha dos Terroirs
Para Seguin, a Borgonha é a região do Mundo onde a noção de Terroir tem melhor expressão. A superfície das vinhas ou Crus é reduzida, por vezes dividida por dezenas de proprietários, e em cada Cru, (ou Climat) existe uma grande homogeneidade de solo, subsolo, microclima, quase sempre com uma única variedade plantada (Chardonnay ou Pinot Noir) e um porta-enxerto resistente à clorose, além de homogeneidade nos modos de condução e de técnicas culturais e enológicas. Já em Bordéus, pelo tipo de parcelamento e presença de mais castas, cada Chateau é uma soma de Terroirs distintos. Dai o existirem segundas e terceiras marcas na maioria dos Chateaux.
Na Borgonha e noutros locais do Mundo onde existam Terroirs divididos (Mosel, Alsácia, Champagne) é fácil avaliar a importância da acção humana na expressão de cada Terroir. Mais importante que o nome do Cru é o nome do produtor. Quase todos os Terroirs divididos por vários ou muitos proprietários originam vinhos diferentes, por vezes, demasiadamente diferentes, sendo que o preço nem sempre acompanha esta diferença.

Novo Mundo Versus Velho Mundo
De um modo geral, o Novo Mundo negava a existência do Terroir ainda há poucos anos. Argumentavam que o conceito era anacrónico e que consistia apenas num acção de marketing da velha Europa que perdia todos os anos quotas de mercado para o Novo Mundo.
Com uma vitivinicultura apoiada no pragmatismo e nas boas práticas, o Novo Mundo foi mudando, a pouco e pouco, de opinião. Hoje a sua viticultura de precisão subdivide as vinhas em parcelas com características semelhantes de modo a conseguir uvas com maturação homogénea. É a sua maneira de trabalhar para atingir melhor qualidade. Mais ainda. O Novo Mundo aceita que a denominação de origem ou tipicidade relativa a cada região é o caminho para os vinhos de alta qualidade.
Dois Mundos, dois conceitos de Terroir: o Velho procura reproduzir nos vinhos as especificidades de cada vinha e o Novo aceita o Terroir, ou pelo menos um conceito próximo, como um meio para melhorar os vinhos. Esta nova atitude espalha-se à Argentina, ao Chile, à Nova Zelândia e a todas as vinhas do Mundo de inspiração Novo Mundista que sem o historial e estatuto de algumas regiões europeias têm de lutar com outras armas e adaptar o conceito de Terroir à sua realidade.

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