segunda-feira, 1 de junho de 2009

VINHO TINTO EMAGRECE


Dizem que a humanidade conhece os poderes do vinho há muitos e muitos séculos. Desde que a famosa arca se fixou no monte Ararat, após o dilúvio universal, sabia-se que a bebida em porções moderadas era benéfica ao ser humano. Noé, no entanto, grande apreciador do vinho, tomou-o em excesso e foi censurado pelos filhos. Esse talvez seja um dos primeiros exemplos de que o excesso de vinho, além de fazer mal, pode levar ao inconveniente.

O vinho (e também o azeite de oliva) sempre foi considerado um poderoso coadjuvante no exercício da medicina. Houve tempo em que ele era diluído com água e receitado como um tônico por provocar alegria, afastar a depressão e conduzir à euforia. Desconfiava-se que ingerido, diariamente, em quantidades razoáveis, ele era capaz de tornar a longevidade mais provável. Mas foi apenas no fim do século 20 que surgiram publicações científicas comprovando o que muitos já sabiam na prática.

O vinho tinto é muito rico em flavonóides, substâncias anti-oxidantes, que elevam o bom colesterol e abaixam o mau (LDL-colesterol), mantêm a coagulação do sangue normal e diminuem o chamado stress celular. Enfim, os flavonóides executam uma tarefa metabólica excelente para o organismo. O principal componente dos anti-oxidantes do vinho tinto é chamado de resveratrol.

Mas qual é o segredo do vinho tinto?
O vinho tinto provém de uvas prensadas. Extrai-se o suco, mas mantém-se a casca de uva, sementes e galhos, junto com a polpa durante todo o processo de fermentação. Disso vem o segredo da bebida. É nas cascas que se localiza o resveratrol. Sabe-se que este produto químico é a defesa natural da uva contra fungos. A fruta produz tanto mais resveratrol quanto mais ataques externos de fungos houver em sua região. E é justamente essa substância - capaz de defender a uva de seus inimigos naturais - que exerce excelente propriedade anti-oxidante no corpo humano.

O mesmo não ocorre com o vinho branco. Esta bebida é preparada sem as cascas da uva, os pequenos galhos e as sementes da fruta. O resto é sedimentado no fundo do tanque e depois utilizado para outros fins (álcool). A fermentação de uvas para vinho branco praticamente não possui o material das cascas, portanto não apresenta quantidade significativa do resveratrol.

O resveratrol reduz o número de células adiposas
Em meados de 2008 um grupo de cientistas alemães notou que camundongos submetidos a um dieta engordativa com alimentação padronizada (ração especial) não se tornavam obesos, se ingerissem resveratrol em doses pequenas. Outro grupo de cobaias - com a mesma alimentação, mas sem o anti-oxidante - ganhava peso.

Sabemos que a gordura do corpo é guardada dentro de células chamadas de adipócitos. São vários os tipos de dessas céluas, com propriedades diferentes, tamanhos diversos e funções específicas. Todos os adipócitos secretam hormônios como leptina (que vai ao cérebro e indica saciedade). O número de adipócitos e o seu tamanho são determinados por vários fatores hormonais, químicos e genéticos ao longo da vida.

Os cientistas aplicaram o resveratrol e uma amostra de adipócitos imaturos (pré-adipócitos) e notaram que o anti-oxidante levava a uma diminuição de geração de adipócitos maduros tanto em número quanto em tamanho. Em última análise o resveratrol fazia com que o organismo tivesse menor capacidade de armazenar gordura, pois adipócitos estavam menores e em menor número.

Mais interessante, todavia, é que o resveratrol tinha a propriedade de diminuir a geração de gordura dentro do adipócito. Finalmente outra coisa boa: as células tratadas com resveratrol tinham a propriedade de produzir uma substância (adiponectina) capaz de diminuir o risco para doença coronariana.

Pesquisadores concluíram que o resveratrol é um elemento quimicamente útil para impedir a obesidade, mesmo em condições de excesso de comida. Será que teremos um dia o milagre: comer de tudo e não engordar? O resveratrol promete este sonho!

MATERIA EDITADA POR Geraldo Medeiros
Médico endocrinologista Professor da USP | email: medeiros.dr@gmail.com
EM 03/11/08.

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